sexta-feira, 26 de junho de 2009

O Rei do Pop/ Música e Literatura

Não posso deixar de homenagear o grande astro do pop que foi o Michael Jackson, gênio da música pop. Se a música pop atingiu os patamares atuais, com certeza, foi por causa dele. Antes de Thriller, os clipes musicais não tinham o papel que desempenham hoje. É impressionante como talentos precoces costumam deixar o mundo de modo, também, precoce. Os exemplos são muitos nas diversas áreas da cultura e do conhecimento. Sempre me pergunto se essas pessoas teriam feito muito mais, mas acredito que elas viveram o que tinha de ser vivido. No caso particular do Michael, ele já estava morto, oco em si mesmo, usando as palavras do Reinaldo Azevedo*. Já faz algum tempo que eu me perguntava se ele faria coisas geniais como na década de 80. Como intérprete, ele já era um gênio desde criança**. Ele não precisava ter feito mais nada além de cantar que já teria feito muito, mas, não satisfeito, posteriormente, revolucionou o mundo pop com seus passos coreografados, seus clipes e composições. É triste ver que algumas gerações mais recentes desconhecem a sua genialidade e têm na memória apenas a figura caricata, caindo na bizarrice, que ele se tornou. Lembro-me do desenho dedicado aos Jackson Five que assistia quando criança. Não sei quantos lembrar-se-ão dele***. Quanto aos casos polêmicos dele, especificamente os de pedofilia, vi, certa vez, um especial sobre a vida dele num History Channel da vida, Discovery ou coisa parecida. Podem chamar-me de ingênuo, mas via sinceridade no depoimento dele quando se referia às acusações. Acredito que houve muita maldade com relação a ele. Não faltaram aproveitadores. Enfim, independentemente da vida pessoal dele, a vida artística foi exemplar. A quantidade de elogios dispensados a ele é impressionante. Artistas de todo gênero enalteceram-no e emocionaram-se com seu repentino e inesperado falecimento****. Alguns afirmam que ele representará o Elvis negro na história da música. Não duvido e espero que a história faça jus ao seu talento.

* http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/as-parcas/

**Lindíssima essa música! Não consegui entender ainda se ela foi encomendada pelo Michael, já que li que Ben era um ratinho do Michael. Acreditava que a composição era dele, mas pesquisei e é da dupla Black/Scharf



*** Aí está uma imagem do desenho:


**** http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2009/06/25/artistas-brasileiros-lamentam-morte-de-michael-jackson-756523930.asp (Alguns exemplos)
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Gosto muito de Literatura. Num teste vocacional que fiz no segundo ano do Ensino Médio, numa das minhas aulas de Filosofia, atingi a pontuação máxima em Música, com um ponto a menos, vinha Literatura/Letras — não me lembro de qual foi o termo específico utilizado — e, em terceiro lugar, Ciências Físicas. Foi a partir deste teste que comecei a confirmar para mim mesmo que cursaria Física, embora já pensasse no assunto desde que li o livro Viagens no Tempo no Universo de Einstein — Richard Gott. As outras áreas eu quase zerei. Lembro-me de uma amiga que hoje faz Serviço Social na UnB que ficou indignada com a minha pontuação na área social e com minhas argumentações de que esta era inútil. Tenho uma coleção da revista Entrelivros que contempla a literatura inglesa, russa, americana, francesa, portuguesa, italiana, latino-americana e alemã¹. Lendo alguns blogs na rede, descobri uma lista da New York Times — já falei aqui que adoro listas — intitulada "What is the best work of American Fiction of the Last 25 Years?" (Qual o melhor trabalho da ficção americana dos últimos 25 anos?). Colocarei aqui a lista dos 25 livros com os respectivos títulos originais em Inglês que foram citados, incluindo o ganhador². Pretendo lê-los, principalmente porque preciso treinar meu Inglês. Na época em que pesquisei sobre Números Hipercomplexos, lia bastante na língua, mas, hoje, estou meio enferrujado. Até as músicas, que ouvia muito na língua, diminuíram muito em sua quantidade, já que tenho focado a música brasileira ultimamente; aliás, pelo que conheço, acredito que a música brasileira é a mais rica do mundo em todos os aspectos! Hoje, entendo melhor o interesse do Mário de Andrade pelo assunto. Eis a lista:

Ganhador:
Beloved - Toni Morrison (1987)

Citados que se aproximaram do ganhador:

Underworld - Don DeLillo (1997)

Blood Meridan - Cormac McCarthy (1985)

Rabbit Angstrom: The Four Novels - John Updike³ (1995)
— "Rabbit, Run" (1960)
— "Rabbit Redux" (1971)
— "Rabbit is Rich" (1981)
— "Rabbit at Rest" (1990)

American Pastoral - Philip Roth (1997)

Livros que receberam muitos votos:

A Confederacy of Dunces - John Kennedy Toole (1980)

Housekeeping - Marilynne Robinson (1980)

Winter's Tale - Mark Helprin (1983)

White Noise - Don DeLillo (1985)

The Counterlife - Philip Roth (1986)

Libra - Don DeLillo (1988)

Where I'm Calling From - Raymond Carver (1988)

The Things They Carried - Tim O'Brien (1990)

Mating - Norman Rush (1991)

Jesus' Son - Denis Johnson (1992)

Operation Shylock - Philip Roth (1993)

Independence Day - Richard Ford (1995)

Sabbath's Theater - Philip Roth (1995)

Border Trilogy - Cormac McCarthy (1999)
— "Cities of the Plain" (1998)
— "The Crossing" (1994)
— "All The Pretty Horses" (1992)

The Human Satin - Philip Roth (2000)

The Know World - Edward P. Jones (2003)

The Plot Against America - Philip Roth (2004)


Percebam que o Philip Roth tem 6 livros na lista! Eu gosto muito dele. Acho o livro "O Complexo de Portnoy" genial. Um dia, escreverei um romance nos moldes deste livro. Li, também, um livro do Marcelo Mirisola, "O Azul do Filho Morto" que gostei muito e que me lembrou muito o livro do Philip Roth e seu estilo.

Assim como a Literatura, a Música, como vocês já devem ter suposto pelo meu teste vocacional, é outra paixão minha. Não dirijo sem ouvir música; aliás, geralmente, baixo os álbuns no computador, ouço rapidamente e, depois, gravo um cd para ouvir no carro. Aqueles álbuns que gosto mais vão para o som do meu quarto, onde ouço com mais atenção, acompanhando com as letras em mão. Pensei em resenhar muitos álbuns aqui, mas não me acho conhecer suficiente da obra dos artistas pra comentar algo — para exemplificar, os últimos álbuns da Zélia Duncan e do Nando Reis. Da Zélia, até que conheço mais —; no entanto, estou ouvindo o último álbum do Dream Theater, "Black Clouds & Silver Linings", banda que acompanho desde o álbum genial de 1999 "Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory", e pretendo resenhá-lo aqui. Estive pensando nas minhas influênciais musicais. Quando criança, ouvi muita MpB, Jovem Guarda, Roberto Carlos, Vencedores por Cristo por causa da influência dos meus pais. O interessante é que meu pai, quando estava na quinta série, chegou em casa com o cd do Legião Urbana "As Quatro Estações". Desde então, sou fã da banda. Digo interessante porque rock nunca foi um ritmo apreciado pelos meus pais, embora eles sejam fãs do Elvis, porém das músicas mais lentas. Minha mãe não consegue ouvir uma música que tenha qualquer guitarra distorcida de fundo. Quando completei sete anos de idade, comecei a estudar na Escola de Música de Brasília e entrei em contato com a Música Erudita. Apaixonei-me! Mozart, Beethoven, Vivaldi, Villa-Lobos, entre outros clássicos. Nas minhas aulas de Inglês, os meus amigos ouviam Nirvana, Ramones, e eu Roberto Carlos. Não passei pelo movimento punk, apenas curti algumas bandas como Green Day, MXPX, The Offspring, as quais não considero como punk puro mesmo. Tinha muito preconceito. Não entendia o contexto histórico em que o movimento punk surgiu. Achava que quem gostava de punk é porque não tinha habilidade suficiente para ser um virtuose.

Na oitava série, comecei a ouvir algumas bandas como Metallica. Iron Maiden nem tanto. Ouvia mais Heavy Metal tradicional, mas gostava muito de progressivo. Symphony X, Dream Theater... Eu pirava ouvindo essas bandas. Ja fui preconceituoso com Metal Melódico, mas acabei aderindo a todos os estilos. Passei boa parte da minha vida ouvindo só Heavy Metal. Achava todo o resto mal feito, simplista demais. Li, certa vez, numa revista que aqueles que ouviam Heavy Metal na adolescência, quando chegavam por volta dos 18 anos, tinham, normalmente, duas atitudes: ou abandonavam o Heavy Metal ou começavam a se interessar por bandas mais antigas de rock. Quando li isso, estava começando a ouvir bandas como Pink Floyd, Black Sabbath, Led Zeppelin, Queen, Yes, The Beatles. Fiquei um bom tempo ouvindo bandas antigas de rock e achava que a música da minha época era um lixo e que, infelizmente, não se fazia mais nada no nível do que foi feito nas décadas de 60/70. Comecei a ouvir Heavy Metal, principalmente, por influência do meu melhor amigo na época. Um belo dia, ele chegou a mim dizendo que queria aprender a tocar cavaquinho, sendo que ele tocava guitarra! Fiquei pasmado! Ele falou que estava curtindo muito Choro. Por influência dele, comecei a ouvir Choro e acho que graças a este estilo musical, abri as portas da minha influência musical para bandas contemporâneas de estilos diversos.

Toda essa história é pra dizer que devemos estar sempre abertos a tendências, novidades, ritmos. Nunca achei que defenderia a Música Pop na vida, mas o que fiz no início desta postagem foi, justamente, uma defesa da Música Pop, pois ela, certamente, não existiria, sem exageros, sem Michael Jackson, pelo menos nos moldes que conhecemos.

¹ https://ssl430.locaweb.com.br/clubeduetto/loja/categoria.asp?fml=4&ctgr=57

² http://www.nytimes.com/ref/books/fiction-25-years.html

³ Em 2001, foi lançado um novo romance da série intitulado "Rabbit Remembered".


sábado, 13 de junho de 2009

Honra de um elogio/ Letras empoeiradas

Ontem, vi um filme muito bom! Recomendo a todos! Os atores protagonistas são Julia Roberts e Clive Owen. O filme é muito inteligente, bem construído. Excelente roteiro e nem um pouco óbvio. Gosto muito de filmes que você não consegue adivinhar como as coisas acontecem. A trama é muito bem entremeada e tão corrida que o filme parece ter muito mais do que os 125 min. A trilha sonora também é excelente. Quando o filme terminou, fiquei com uma sensação de que não se pode confiar em ninguém. Fiquei pensando como seria o mundo se todas as pessoas resolvessem ser trapaceiras umas com as outras, dispensando a honestidade.
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Tive a honra de receber um elogio do Caetano Veloso! É engraçado como certas coincidências ocorrem na vida. Por falar nelas, voltarei ao assunto mais tarde. No show do Caetano, que foi perfeito por sinal, tentei entregar um cd com algumas composições minhas por meio de uma segurança. Na última música que ele cantou — Força estranha — ele levou um tombo, como vocês devem saber; inclusive, o Pânico fez uma brincadeira muito engraçada com o fato¹. Eu gravei, acidentalmente, a cena e fui o primeiro a colocar o vídeo no Youtube, infelizmente as cabeçorras próximas a mim, além da bateria baixa das pilhas, impossibilitou-me de gravar a cena com maior precisão. Na referida música, o Caetano pára de cantar e deixa o público cantar — vocês podem ver isso lá por 2 min56 no vídeo abaixo. A minha voz se sobressai por eu estar mais próximo da câmera. A Lícia Peixoto — a quem agradeço muito pela atenção dispensada e envio do jornal —, no Youtube², comentou que o Caetano tinha elogiado a voz de quem cantava na Gazeta de Alagoas e disse que poderia mandar a cópia do jornal ao dono da voz. Entrei em contato com ela e no jornal de domingo, 24 de maio de 2009, Caetano disse o seguinte:

Incrível, ? Voltando ao assunto das coincidências, estive discutindo com a Dani, minha namorada, sobre o assunto nesta semana. Sabe quando você começa a prestar atenção em certas coisas e acha que elas estão ocorrendo com mais freqüência? Darei um exemplo! Quando comecei a aprender Francês, comecei a ver um bando de coisa referente à língua na minha frente! Na semana passada, li uma matéria sobre um projeto do Arnaldo Antunes, Edgard Escandurra, Taciana Barros e Antônio Pinto na Veja. Vi, casualmente, o álbum para baixar na net, antes de encontrar, também casualmente, o MySpace³ do grupo e, coincidentemente, eles se apresentaram na madrugada do domingo passado no programa Altas horas! Coisa parecida aconteceu com Édson e Hudson. Vi uma entrevista deles no Soares, resolvi baixar o último álbum deles "Despedida" e o álbum solo do Hudson "Turbination" para ouvir, então, eles se apresentaram no programa do Sbt "Uma hora de sucesso" no sábado à noite. A questão é: será que de fato os acontecimentos foram coincidências ou eles foram percebidos, justamente, porque passei a dar mais atenção a eles, ou seja, eles teriam acontecido de uma maneira ou de outra, mas eu que prestaria ou não atenção neles? Acredito que a última possibilidade é mais verosímil, a primeira, contudo, não é completamente descartável.

¹ http://www.youtube.com/watch?v=oAVfg3DHjMI


² http://www.youtube.com/watch?v=4STkcgOX92g


³ http://www.myspace.com/pequenocidadao



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Um dia, escreverei um livro. Acredito que, preferencialmente, um romance, embora envereda, também, no caminho da poesia e dos contos, apesar da freqüência nestes ser menor — escrevi um conto nesta semana para um concurso promovido pela revista piauí. Depois, colocarei-o aqui. Já tive muitas idéias de romances, além de livros filosóficos e científicos, e muitas destas encontram-se perdidas em cadernos empoeirados. Limpando o meu armário, encontrei um caderno do ano de 2000 — tinha 14 anos. Encontrei um texto introdutório intitulado "Consumismo". Eu me lembro de que na época comecei a ler obras de cunho marxista, anarquista e libertário. Acho engraçado quando vejo pessoas ingressarem nas universidades em cursos de Humanas e usarem o linguajar que eu utilizava quando tinha 14 anos, próprio de pessoas que se iniciam nas leituras que citei. Muitos termos não têm sentido na sociedade de hoje. Falar de burguesia é até anacrônico.

Já publiquei no meu floghttp://www.fotolog.com.br/fabiosal/16359804 — um outro texto que já encontrei numa das minhas limpadas de armário. É interessante encontrar esse tipo de coisa porque vejo a evolução das minhas idéias e da minha escrita, no caso do texto que colocarei aqui, evolução é sinônimo de progresso — evolução significa, pelo menos em termos biológicos, mudança simplesmente. Não sabia pontuar, coisa que só comecei a aprender no meu terceiro ano do Ensino Médio. Acreditava, na verdade, que a norma culta era ladainha de quem não tinha mais o que fazer. Só quando conheci a Filosofia Existencialista e a Filosofia da Linguagem que comecei a importar-me com o assunto. Ainda acho que algumas regras são apenas questão de padronização, mas que não ajudam na lógica de expressar-me. Colocação pronominal, por exemplo, é um assunto pelo qual comecei a interessar-me recentemente, pois sempre achei e ainda acho, desnecessário para uma melhor expressão escrita ou oral. Eis o texto:

Consumismo
Defino consumismo como o ato de comprar deliberadamente algum produto sem a necessidade básica de fazê-lo. O sistema capitalista, no qual vivemos hoje, tem imposto à sociedade o consumismo. Este sistema impôs a crueldade de alguns consumirem exacerbadamente apenas para parecer bonito para a sociedade ou apenas se encaixar no padrão de moda existente, enquanto outros, nem se quisessem, podem comprar com a finalidade dita ou comprar o que vestir. O ato em si de consumo não é errado. Se as pessoas consumissem para se sentir bem, independentemente da opinião alheia, e para o seu entretenimento, este ato não estaria errado. Todos merecem a mesma oportunidade e devem consumir sim, não para atender a algum padrão pré-determinado, mas para sua felicidade e, principalmente, necessidade, esta que se torna importantíssima no caso do consumismo. É necessário comprar três camisas se a finalidade original desta é proteger do frio e cobrir a nudez? Enfim, com um bom senso*, pode-se distinguir claramente a necessidade e a excessividade.

* O bom senso será abordado no desenrolar deste livro


Voltando... A lógica da minha escrita era um tanto quanto embolada. O meu texto apresenta várias falhas. Defini consumismo como um ato deliberado, mas, depois, digo que é um ato imposto pelo sistema. Acho que, como na época não pensava nem na possibilidade de questionar o livre-arbítrio nem de pensar nele de forma crítica, o arraigamento da liberdade de escolha no meu pensamento produziu essa inconsistência. Nunca fui muito chegado em Ecologia, falatório de politicamente corretos ou conversa de sustentabilidade. Não via nada errado, na época, em consumir por entretenimento; contudo, hoje, acredito que o ato de consumo deve estar aliado à sustentabilidade. Estava muito mais preocupado com as liberdades da consciência para pensar em preservação da natureza. Via a necessidade de agirmos pela volição plena sem sermos manipulados, embora soubesse que a influência de certos valores familiares, culturais etc. é insuperável.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Ética e o sofrimento de conhecer

Assisti nesta semana ao nono episódio da 12ª temporada dos Simpsons. Gosto muito deste desenho: é um dos poucos que consegue fazer-me rir, além de ser um desenho muito inteligente. No referido episódio, Homer descobre que sua burrice deve-se a um giz crayon em sua cabeça, o que ocorreu num acidente quando ele era criança. Os médicos disseram a ele que a retirada do giz de sua cabeça aumentaria o seu Q.I. em mais de cinqüenta pontos. O aumento de inteligência do Homer surpreendeu sua filha Lisa, mas começou a causar certos incômodos. Ele percebeu que era mais feliz quando era burro. Um fato interessante é que o aumento de inteligência do Homer correspondeu a uma atitude ética quando ele denuncia anonimamente aos superiores responsáveis as condições precárias nas quais a usina nuclear em que trabalha opera. O Senhor Burns, dono da usina, resolve despedir vários empregados por causa das indenizações que ele terá de pagar. Os colegas de Homer, que sabem que ele foi quem delatou a usina, revoltam-se com ele. Homer recorre aos médicos para que o giz seja reinserido em seu cérebro, alegando que ele é um intelectual no meio de ignorantes. Angustiado, ele pergunta à sua filha como ela consegue ser feliz.

O episódio é muito rico e sugere muitas reflexões, lembrando-me daqueles livros comerciais que almejam ver Filosofia* em tudo que for popular e constituinte da cultura pop. Lembrei-me, também, de dois episódios. O primeiro diz respeito a um caso real de uma alemã que teve um lápis retirado de seu cérebro após 55 anos** e o segundo, a um caso que li no meu livro de Biologia no Ensino Médio sobre o qual já fiz referência no meu flog***. Este último caso levava-me à crença da inexistência da alma, mas depois de estudar várias concepções filosóficas que exigem a existência dela ou que a caracterizam diferentemente de uma substância imutável, terei de repensar o caso.

O livro bíblico de Eclesiastes diz o seguinte no último versículo do primeiro capítulo:

"Pois quanto maior a sabedoria, maior o sofrimento; e quanto maior o conhecimento, maior o desgosto.".

Numa entrevista que li do Clóvis de Barros Filho, ele diz que conhecer é algo extremamente prazeroso para ele. Não sei dizer se compartilho da mesma sensação. Já se tornou clichê citar Matrix, mas é perfeita a cena em que um dos guerrilheiros vende-se para retornar à Matrix, dizendo que preferia viver na ilusão do que conhecer a realidade. Em troca da entrega dos seus companheiros, ele pediu para retornar como um milionário, alguém de sucesso na vida. Sempre tive a verdade como bandeira, mas não sei explicar direito o porquê da preferência da verdade acompanhada do sofrimento em vez da mentira e da ilusão. Um tema que o episódio também aborda é a questão da ética. Nunca pensei na Ética de um modo formal. Acho que tenho de ler mais sobre o assunto e refletir mais. Sempre agi seguindo o princípio de que não devo fazer aos outros o que não quero que me façam. Não sabia, inclusive, que este lema ético era explícito na Bíblia como, por exemplo, em Lucas — 6:31 — : "Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles.".

Estudando a ética kantiana, descobri dois princípios que poderiam nortear-me. O primeiro diz que se determinada atitude não pode ser universalizada, não é correta. Explico-me. O ato de mentir por exemplo. O que ocorreria numa sociedade em que a mentira fosse regra? Outros atos como o assassinato ou o suicídio podem ser pensados nessa perspectiva. Outro princípio é que não devemos agir usando o princípio da causalidade, ou seja, tendo as conseqüências por panorama. Se alguém age corretamente pensando em não ser pego ou apresentar uma boa imagem, está agindo errado. As pessoas devem agir segundo o ato em si mesmo. Elas devem ser boas independentemente de serem recompensadas ou não. Concordo com este último princípio, mas tenho minhas dúvidas quanto ao primeiro. Um pai que quer fazer uma surpresa ao seu filho, mas é encurralado por este não pode mentir? Depois de ler o livro Auto-Engano do Eduardo Giannetti****, passei a ter outra visão sobre a mentira e o engano. Já acreditava que estes eram necessários à sobrevivência e responsáveis pelo homem estar no ápice da cadeia alimentar, mas reafirmei minhas convicções depois da leitura do livro. Comecei a pensar desta forma depois que li Nietzsche.

Não acredito que o homem seja naturalmente bom como Rousseau, mas que nasce mau e é mau Tal fato também é bíblico, mas não consegui encontrar a referência exata. Sou adepto da idéia aristotélica de que o ato bom passa a ser praticado a partir do hábito. A Bíblia, aliás, é veemente quando diz que "aquele que faz o mal não viu a Deus" — 3 Jo 11. A idéia do hábito pode ser deduzida a partir do texto de Romanos quando Paulo diz "Odeiem o que é mau; apeguem-se ao que é bom" — Rm 12.9. Não acredito, na verdade, que somos totalmente maus. Minto. Acredito que o mal não existe enquanto substância, mas que é a ausência do bem em diversas intensidades. Minha crença deve-se ao argumento de Santo Agostinho que postei num outro flog meu*****, embora tenha de admitir que a idéia de corruptibilidade no argumento é bem ampla — o que seria a corrupção de ser vivo que não seja humano?.

As pessoas são precipitadas ao criticarem os nossos políticos, mas não percebem que deixam de ser éticas no dia a dia — o uso do hífen é um dos poucos casos que aderi no que se refere à famigerada reforma ortográfica; antes desta, havia diferenças entre "dia-a-dia" e "dia a dia". Atos corriqueiros como enfrentar uma fila de um estabelecimento ou jogar papel no chão mostram o caráter das pessoas. Não sou bonzinho. Já fiz muita coisa errada e, provavelmente, devo fazer muitas coisas das quais não me dou conta. Nesta semana, resolvi observar na UnB quantas pessoas jogariam ao chão o papel de propaganda colocado no carro. De 15 carros que observei, apenas uma pessoa guardou o papel dentro do carro para jogar fora depois — a pessoa poderia ter se interessado pelo assunto contido no panfleto também. No último programa Altas Horas que assisti, o Herbert Vianna, vocalista do Paralamas do Sucesso, disse que se uma pessoa não é capaz de respeitar a vaga reservada para um deficiente físico, quanto mais as outras coisas.

Almoço nas terças com minha namorada e costumo esperá-la debaixo da sombra das árvores perto do portão onde ela sai. Observo, quase sempre, que as pessoas param de qualquer forma na vaga, ocupando duas ou mais vagas, impedindo que outras pessoas possam aproveitar a sombra. Deixei até um recado escrito para uma pessoa que cometeu tal ato. Estou tentando repensar os meus atos para descobrir o que faço ou deixo de fazer que prejudica o meu próximo. Sou uma pessoa extremamente impaciente no trânsito. Acho que as pessoas não têm habilidade e admito que saio cortando os carros. Um primo meu critica o fato de eu não esperar nas filas nos retornos e ir para a "segunda faixa" que, segundo ele, não existe. Ao mesmo tempo em que acho que não sou obrigado a pagar o preço pela lerdeza das pessoas, vejo que, pensando dessa forma, caio no erro de agir segundo o princípio da causalidade que citei anteriormente.

A aquisição de conhecimento e de sabedoria pode ser um caminho que traga sofrimento; contudo, é um caminho necessário para a ética. Não acredito no exercício da ética plena sem algum exercício reflexivo, até porque a ausência deste mostra uma ética que não é plena. Servindo-me de um exemplo do meu professor de Introdução à Filosofia, alguém que se diz caridoso por prazer não é ético! Se a caridade provocasse repulsa, nojo, esse alguém não seria caridoso então? Devemos ser éticos pelo ato em si e sempre nos policiar para que o hábito nos faça éticos. Um fato recente de nossa política que demonstra que o auto-policiamento deve ser diário é o festival das passagens aéreas. Vários políticos que eram tidos como exemplo de ética e defensores desta estavam envolvidos, como, por exemplo, Fernando Gabeira. A ética, por fim, é um assunto que tem de ser pensado e repensado com freqüência.

*http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2221457&sid=1882282111165845965694825&k5=2E1F610C&uid=

** http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/08/070807_lapisalema_fp.shtml

***http://fabiosal.flogbrasil.terra.com.br/foto8757793.html

****http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=946660&sid=1882282111165845965694825&k5=2319D147&uid=
*****http://www.fotolog.com.br/fabiosal/20921314